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Sistema Articular

Por Guilherme Pinheiro Santos

1. INTRODUÇÃO

Artrologia, também chamado de Sindesmologia, é a parte da anatomia que estuda como as partes rígidas do organismo, os ossos, se unem para formar o esqueleto. O local onde dois ossos se unem é chamado de Juntura ou Articulação e se classificam por sua constituição, função, união e movimentação.
De acordo com o meio de união das superfícies articulares, as junturas são classificadas em três tipos: Fibrosa, Cartilaginosa e Sinovial.

2. JUNTURAS FIBROSAS

É o tipo de articulação e que o meio de união entre os ossos é constituído por Tecido Conjuntivo Fibroso. O seu grau de mobilidade é sempre pequeno e depende do comprimento das fibras interpostas. Existem três tipos de junturas fibrosas: Suturas, Sindesmose e Gonfose.

2.1. SuturasSão as articulações que são encontradas nos ossos do crânio. A maneira pela qual as bordas dos ossos articulares entram em contato é variável, classificando-se em:

a. Suturas planas: possui bordas articulares retilíneas. Ex: articulação internasal.

b. Suturas Escamosas: possui bordas articulares com certo desnível.Ex: entre os ossos temporais e parietais.c. Suturas Serreadas: possui bordas articulares unindo-se em linha denteada.Ex: entre os ossos lacrimais e zigomático.
No feto ocorre uma quantidade elevada do Tecido Conjuntivo Fibroso entre as bordas articulares, o que dá aos ossos do crânio uma certa mobilidade. Porém, após o nascimento e com o decorrer da idade ocorre a calcificação das suturas.

2.2. Sindesmoses

São as articulações que ocorrem entre os ossos que contém  o Tecido Conjuntivo Fibroso como meio de união e que não sejam os ossos do crânio. Como por exemplo: as uniões fibrosas entre os ossos metacárpicos e metatársicos e entre o radio e a ulna do eqüino, mas com a idade essas junturas também se ossificam.

2.3. Gonfoses

É a juntura fibrosa entre a raiz do dente e o seu alvéolo. Alguns autores não consideram uma verdadeira juntura, já que os dentes não fazem parte do esqueleto.

3. JUNTURAS CARTILAGINOSAS

O meio de união das superfícies articulares é constituído por tecido cartilaginoso. São classificadas em dois tipos:

3.1. Sincondrose

A união dos ossos é constituída por cartilagem hialina. Este tipo de cartilagem é um tipo temporário, pois se converte em ossos antes da idade adulta. Exemplo: Sincondrose mandibular nos bovinos.

3.2. Sínfese

Juntura cartilagínea em que os ossos são unidos por fibrocartilagens. Exemplo: a união dos corpos das vértebras.

4. JUNTURAS SINOVIAIS

A união dos ossos é feita por um líquido especial denominado Líquido Sinovial, que fica interposto entre as superfícies articulares. Constituem as articulações propriamente ditas, e além da função de união dos elementos ósseos, possibilita o movimento dos seguimentos corporais. São caracterizadas pela presença de uma cápsula articular, que é uma estrutura membranácea que envolve as extremidades dos ossos que se articulam. Dessa forma, a cápsula articular delimita a cavidade articular, onde está contido o líquido sinovial.
A cápsula articular é constituída por duas camadas: 

a. Membrana Fibrosa: 

É a camada externa. É formada por tecido conjuntivo denso. É resistente e ela pode ser reforçada por faixas fibrosas mais espessas que são os ligamentos capsulares.

b. Membrana Sinovial: 

É a camada interna, lisa, brilhante e reveste inteiramente toda a cápsula articular. Formam expansões como as pregas e vilos sinoviais que se projetam no interior da cápsula articular. É muito invervada e vascularizada. Ocorre a produção do líquido sinovial, que é um líquido claro, transparente e viscoso devido a presença de mucinas. Contém também albumina, sais, gotículas lipídicas e resíduos celulares. A sua principal função é lubrificar as superfícies articulares para reduzir o atrito e o desgaste. Pode também servir de transporte de nutrientes para as cartilagens articulares e também para a remoção de seus catabólitos.

As cartilagens articulares revestem toda a superfície de contato de um osso com outro. São de natureza hialina e não possuem vascularização e nem inervação.A função de união da cápsula articular na maioria das articulações, é reforçada pelos ligamentos que são faixas resistentes de tecido conjuntivo fibroso. Além dos ligamentos capsulares, existem os ligamentos extra-capsulares, localizados na parte externa da cápsula e ligamentos intra-articulares, localizados no interior da cavidade articular.Em algumas articulações é possível se encontrar os discos e os meniscos, por exemplo, na articulação do joelho é encontrado o menisco, enquanto o disco é encontrado na articulação temporamandibular. Estes são estruturas fibrocartilagíneas que tem a função de:

a. Amortecer as pressões sobre a articulação

b. Facilitar o deslizamento, possibilitando uma melhor adaptação entre as superfícies.
No interior da cavidade articular também podem ser encontrados vestígios de tecido adiposo que são revestidos por membrana sinovial que formam conxins, como por exemplo, o coxim adiposo infrapatelar da articulação do joelho.

4.1. Principais movimentos nas junturas sinoviais

O movimento se faz em torno de um eixo que é sempre perpendicular do plano nos quais os ossos envolvidos se movimentam. Os principais movimentos executados nas articulações são:

4.1.1. Movimentos angulares

Ocorre diminuição do aumento do ângulo entre o segmento que se desloca e aquele que se mantém fixo. Primeiramente ocorre flexão e posteriormente extensão. Quando o segmento móvel se aproxima do plano mediano ocorre adução e quando se afasta do plano ocorre abdução.

4.1.2. Rotação

O segmento gira em torno do seu próprio eixo longitudinal. Diferencia-se uma rotação em sentido do plano mediano ou pronação e uma rotação em sentido oposto ou supinação. Estes movimentos são bastante limitados em animais domésticos, mas ocorre por exemplo na articulação entre atlas e áxis.

4.1.3. Circundação

É um movimento resultante da combinação de vários movimentos, como o de adução, extensão, abdução, flexão e rotação.
De acordo com a quantidade de eixos e torno dos quais se realizam os movimentos, as articulações se classificam em:

4.1.4. Mono-axiais

São movimentos simples que se realizam em torno de um único eixo e um único plano. Permitindo apenas flexão e extensão, que ocorre na maioria das articulações.
4.1.5. Bi-axiais:Se realizam em torno de dois eixos e em dois planos, permitindo assim flexão e extensão, abdução e adução. Por exemplo: articulação temporomandibular.
4.1.6. Tri-axiaisOs movimentos são realizados em torno de três eixos, permitindo flexão, extensão, adução, rotação e circundação. Por exemplo: articulação do quadril.

4.2. Classificação morfológica das junturas sinoviais
4.2.1 Plana

As superfícies articulares são planas ou com poucas curvas, realizando o deslizamento de uma sobre a outra em qualquer direção. Por exemplo: articulação entre os ossos do carpo.

4.2.2. Gínglimo

Realiza apenas movimentos angulares de flexão e extensão, contendo dobradiças. Por exemplo: articulação do cotovelo.

4.2.3. Cilindróide

Permitem movimentos de rotação pois as superfícies articulares são segmentos de cilindro. Por exemplo: articulação entre o atlas e o dente do áxis.

4.2.4. Condilar

Uma superfície articular ovóide se aloja em uma cavidade elíptica. É do tipo Bi-axial e permite movimentos de flexão, extensão, adução, abdução. Por exemplo: articulação temporomandibular.

4.2.5. Esferóide

Um dos segmentos articulares é um segmento de esfera e a oposta é uma concavidade na qual se encaixam. É do tipo Tri-axial, realizando movimentos de flexão, extensão, adução, abdução, rotação e circundação. Por exemplo: articulações entre a cavidade glenóide da escápula e cabeça do úmero.

5. ALTERAÇÕES DO TECIDO ARTICULAR5.

1. Anomalias do Desenvolvimento

a. Displasia coxofemoral: é um problema articular, comum nas raças grandes e gigantes de cães, gera fraqueza e instabilidade na articulação do quadril, que é a articulação entre a cabeça do fêmur e acetábulo da pelve (articulação coxofemoral). Excessos de peso e de exercício podem contribuir para o aparecimento da lesão, entretanto a doença pode ter um caráter genético, embora mesmo nos casos hereditários ao nascer o animal não apresenta a lesão, esta se torna visível ao longo de sua vida, e com os fatores predisponentes acima mencionados. Na macroscopia da displasia coxofemoral são encontrados, achatamento da cabeça do fêmur, acetábulo raso, osteófitos e ruptura do ligamento redondo, articulações instáveis e frouxas. 

b. Artogripose (Arthron = articulação e Grypos = entortamento): rigidez articular congênita (flexura ou contratura persistente de uma junta) e atrofia muscular, relacionada com ações virais que afetam o sistema nervoso central e motor. Ocorre  alterações nas articulações e tendões que usualmente são bilaterais e assimétricas. Embora a não ocorrência do desenvolvimento do espaço articular resulte na fixação persistente da junta, habitualmente ocorrerá artrogripose como resultado de um não desenvolvimento apropriado (ou atrofia) dos músculos, causado por distúrbios neurológicos fetais.  Ao nascimento os membros dos animais estão arqueados e a articulação não possui movimentos e a musculatura se encontra rígida. Em bovinos pode ter duas principais causas, uma nutricional, devido a carência de magnésio vou vitamina A, e a outra é por infecção intra uterina  com os microorganismos causadores da Diarréia Viral Bovina ou Língua Azul. Na microscopia é observado diminuição ou desmielinização de neurônios motores dos cornos ventrais da medula. 

5.2. Alterações degenerativas

a. Artrose: alteração degenerativa de caráter evolutivo, que ocorre devido a um desgaste da cartilagem articular. Pode ter uma causa primaria, onde ocorre uma degeneração das células da cápsula articular que podem ter origem traumática ou por diminuição do liquido sinovial, levando ao aparecimento de erosões e ulcerações em decorrência do atrito entre os dois ossos, as ulceras se aprofundam ate o tecido ósseo levando a uma remodelação do osso, que tem a sua porção óssea aumentada devido à inflamação que se estala no local, gerando dor intensa que pode levar a um impedimento da locomoção. Entretanto pode ocorre secundariamente a artrites, osteocondrose, ortocondrites não tratadas.

b. Osteocondrose: acomete varias espécies de animais, mas principalmente suínos de granja em desenvolvimento por possuírem um crescimento e ganho de peso rápido, associado com um piso inadequado. Ocorre uma alteração da placa epifisária de ossos longos, o animal não consegue se manter em pé e sente dor intensa, é observado um aumento do volume articular e o animal se mantém ajoelhado. Quando ha um crescimento ósseo e a mineralização esta comprometida, pode levar a um aumento das fraturas. Os principais sinais observados nos animais afetados são, aumento do volume articular, claudicação, animal se ajoelha, e pode evoluir a para artroses. Na microscopia é encontrado retenção de cartilagem em crescimento, devido a falhas de mineralização.

5.3. Alterações inflamatórias

a. Artrite: lesões presentes na cartilagem articular, além de inflamação da, membrana  sinovial e presença de células inflamatórias. A artrite infecciosa pode ocorrer secundariamente a qualquer lesão previa inflamatória, como pneumonias, infecções no umbigo e outras, que levem a um quadro de septicemia, causando infecção nas articulações. Esse tipo é mais evidente em articulações de ossos longos, caracterizado por uma inflamação exsudativa, e os agentes causadores podem ser vírus, bactérias ou fungos. A artrite infecciosa pode ser do tipo poliarticular, quando acomete varias articulações. A forma não infecciosa tem a inflamação como evento iniciante da artrite, pode ser de causa traumática, imunológica, idiopática, podendo ser erosiva ou não. Uma coleta de liquido sinovial de forma errada pode levar a uma inflamação (artrite) do local. 

6. ASPECTOS MACRO E MICROSCÓPICO DO SISTEMA ARTICULAR

O aspecto normal do Liquido Sinovial é viscoso, de coloração transparente a amarelo. No entanto o aspecto macroscópico do Liquido e membrana Sinovial, e da cartilagem articular podem ser modificados pela congestão e autólise locais, a hemólise do sangue pode fazer com que fiquem corados em vermelho. 

Macroscopicamente, a cor normal da cartilagem articular é branca, leitosa, e poça nas áreas mais densas, nas áreas delgadas que se superpõem à medula óssea a cartilagem tem uma coloração que varia de translúcida à levemente azulada. A espessura da cartilagem articular é variável, não apenas de uma articulação em comparação com outra no mesmo animal, mas também de uma para outra em determinadas junta. Há uma gama de espessuras da cartilagem articular entre as espécies animais. As fossas sinoviais são estruturas anatômicas normais caracterizadas como depressões não articulares na superfície articular.  A cor e transparência dos meniscos e discos articulares, também variam da região e refletem a espessura e composição da estrutura. As partes mais delgadas dos meniscos e discos articulares tem coloração transparente. Conforme vai ocorrendo aumento da espessura a opacidade aumenta e a cor muda gradualmente do azul acinzentado para o branco. 

Microscopicamente, ocorre principalmente predominância da cor branca entre os ligamentos e uma textura fibrosa, entretanto há ligamentos que contêm uma quantidade significativa de tecido elástico e tem cor amarelada, um exemplo é o ligamento nucal. O revestimento sinovial da cápsula articular é rosado, brilhoso e habitualmente liso, e as vilosidades sinoviais, são maiores e mais uniformemente espaçadas nos animais, do que nos seres humanos.

7. BIBLIOGRAFIA

ALVES, Daniel Herbert de Menezes. Apostila de Anatomia I: Departamento de Medicina Veterinária – disciplina de anatomia descritiva dos animais domésticos I. Funorte - Montes Claros - Mg: Faculdades Unidas Do Norte De Minas - Funorte, 0000. 97 p.

ANATOMIA Descritiva dos Animais Domesticos Disponível em: . Acesso em: 29 set. 2013.MCGAVIN, M. Donald; ZACHARY, James F.. Bases da Patologia em Veterinária. 2.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. 12-3163 p.

Autores:

Rhavila Oliveira

Acadêmica do curso de Medicina Veterinária

Universidade Federal de Goiás

Larissa Cordeiro

Acadêmica do curso de Medicina Veterinária

Universidade Federal de Goiás